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Brasileira com síndrome de Down escreveu e protagoniza peça de teatro que fica em cartaz neste fim de semana em Nova York

MARIANA VERSOLATO EDITORA-ASSISTENTE DE “CIÊNCIA+SAÚDE

A peça “Menina dos Meus Olhos”, que estreou ontem em Nova York e fica em cartaz no fim de semana na cidade, é o primeiro roteiro da paulistana Tathiana Piancastelli, 29. E é a primeira vez que uma peça escrita e protagonizada por alguém com síndrome de Down é produzida profissionalmente na cidade.

A jovem sempre gostou de atuar. Antes de se mudar para os Estados Unidos com a família, há um ano, participou de grupos amadores de teatro em Campinas (SP).

Em Nova York, Tathiana se encantou com os musicais da Broadway. “Ao assistir aos espetáculos, ficava com os olhos cheios d’água e dizia: Isso me inspira muito'”, conta a mãe de Tathiana, Patricia Piancastelli Heiderich, 51.

Foi esse o empurrãozinho que faltava para escrever sua própria peça. Dedicou-se ao trabalho por meses, e o resultado foi um roteiro de cinco páginas corridas de texto e 19 personagens. “Era meu sonho. Por que não poderia realizá-lo?”, questiona Tathiana.

O preconceito é o tema central da peça, cujo enredo lembra um conto de fadas. Por causa da síndrome de Down, a personagem de Tathiana, Bella, é tratada como escrava pelo marido, que foi escolhido pelos pais. Com a ajuda de amigos e de Bruno, rapaz por quem ela se apaixona, Bella se liberta e passa a tomar as próprias decisões.

“Ela atua de maneira espontânea, não tem máscaras. Claro que tem suas dificuldade, às vezes esquece as falas, mas é muito profissional”, diz a diretora da peça, a brasileira Débora Balardini. “Estar no palco para ela é uma metáfora do que acontece nas ruas, quando a Tathiana é sempre observada pelos outros”, completa.

Tathiana está acostumada a brigar para mudar a forma como as pessoas veem a síndrome de Down. Dá palestras em defesa das pessoas com deficiências e atua no Instituto MetaSocial, que desenvolve ações com a mídia para promover a inclusão social.

Em 2010 representou o Brasil nas comemorações do Dia Internacional da Síndrome de Down na ONU. E inspirou o cartunista Mauricio de Sousa a criar a personagem Tati, que tem Down e apareceu em gibis institucionais. Ele publicou um vídeo no YouTube parabenizando a “amiga Tati” pela conquista com a peça.

Balardini, que é diretora artística da companhia de teatro Nettles Artists Collective, mexeu pouco no roteiro original. Reduziu o número de personagens e separou o texto contínuo da autora em diálogo e narração. Também adaptou a peça para o teatro físico, calcado na expressão corporal do ator, e sugeriu o cenário minimalista.

A peça é em português com legendas em inglês projetadas em um telão. Antes da estreia, Tathiana dizia estar “um pouquinho” ansiosa, à espera de amigos e parentes do Brasil. As apresentações estão marcadas no teatro Círculo (64 East 4th Street).

Planos para uma segunda peça? “Quero fazer uma continuação. Já tenho a ideia quase pronta na cabeça.”

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